O REI DA MORTE

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Jorg Buttegereit:

Quem tem mais de cinco anos de estrada pelo cinema provavelmente deve ter ouvido pelo menos uma vez alguém falar o nome desse alemão. Quem aprecia o gênero “horror gore” então, deve ter ouvido até antes disso. O fato é que Jorg teve uma passagem muito breve pelo cinema de horror, e penso até que foi o suficiente para ficar na memória dos apreciadores do gênero “gore exploitation” dos anos 80 e 90. Sem dirigir um filme desde Scramm (94)  um cineasta que fixou sua marca na calçada suja desse gênero como ele, deixa sim muitas saudades. Sua fixação pelo tema da morte renderam filmes que hoje são sensações, sendo o mais famoso dele Nekromantic (87)  que teve até uma sequência bastante inferior alguns anos depois.

Já um de seus filmes mais sérios envolvendo essa obsessão vem acompanhado de um outro tema tão espinhoso quanto a morte: o suicídio. O rei da morte se apresenta na forma de um bizarro diário excursionado ao longo de sete dias de uma semana – e para cada dia, uma história curta, onde a morte é a maior estrela, marcando sua presença; seja por um suicídio no meio da tarde, por registros documentais de mortes em um grande viaduto ou por um assassinato doméstico.

Mas filmar cenas de morte, assassinatos ou suicídios usando os velhos artifícios para provocar asco a quem assiste é fácil, afinal tantos filmes na mesma década de 80 se utilizaram disso à exaustão. Porém até nisso este trabalho se destaca, pois uma característica que marca muito Der Todesking e o faz destoar-se dos demais é a ambientação criada para o mesmo. Jorg trabalha com uma atmosfera fortemente opressiva, que por vezes se mostra quase contagiante.

Cada dia da semana um personagem com uma espécie de desmembramento emocional vai encontrar –se  com a morte, seja  por suas próprias mãos ou seja pelas de outrem, e no período entre um dia e outro que separa as histórias, é mostrado a figura de um cadáver que aparece boiando e em decomposição natural que chega a causar uma espécie de repulsa até aos mais batizados no gênero. Parece que estamos todos diante de um documentário real de tão climático que Der Todesking parece. Devo ressaltar que todo esse clima pesado é preenchido por  uma trilha sonora altamente depressiva que enche os ambientes de uma forma que não pude deixar de taxar a obra como “um dos filmes mais depressivos da história”

Não conheço e não me aprofundei muito da vida e carreira do diretor, seu passado ou presente, mas rodar uma obra com tamanha crueza e obsessão assim causa-me um certo espanto, e eu poderia até arriscar em dizer  uma admiração por ele, tanto pelo respeito de um jovem diretor alemão que usou de apuros técnicos convincentes para filmar algo que mexesse mesmo com o emocional das pessoas como também pela oportunidade singular de andejar, ainda que em desespero, nas tortuosidades psicológicas de um sádico mental, pois não bastante o catálogo macabro apresentado, existem ainda pensamentos audaciosos, como aquele na leitura de uma carta de suicídio que diz ” De acordo com nossa realização, eu morro – então “eu sou” em seis dias Deus criou o céu e a terra e ao sétimo ele se matou”

É um trabalho relativamente curto, (tem certa de 72 minutos aproximadamente) mas é o suficiente para figurar entre uma das experiências mais estranhas em forma de película já vista.

O REI DA MORTE (Der Todesking -1990) – direção: Jörg Buttgereit – Alemanha

Elenco: Hermann Koepp; Eva-Maria Kurz; Heinrich Ebber; Michael Krause; Nicholas Petche; Suzanne Betz; Angelika Hoch

2 pensamentos sobre “O REI DA MORTE

  1. Gosto de filmes antigos e cults ( a maioria hoje em dia rotulado assim …) , tenho muita dificuldade de achar os filmes que quero assistir , onde consigo achar esse filme para assistir ?
    Obrigado…

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